11- "Abracadabra"

           Tenho me exposto quanto ao meu ponto de vista sobre religião e, principalmente, quanto a Deus. Recebo críticas e apoio e já fui até chamado de ateu, para não escrever outras palavras neste texto. Tenho percebido que, quando se trata de religião, temos que ser parciais. Ou estamos de um lado ou, obrigatoriamente, do outro. Sinceramente, eu não entendo a necessidade disto. Fui criado dentro dos conceitos religiosos, em escola de padres, sei o que é a doutrina sobre uma criança, portanto, posso falar tranquilamente que não quero isto para meus filhos.
         Não sou ateu e não tenho religião. Não concordo com os dogmas impostos por nenhuma. Sou uma pessoa que luta contra dogmas e conceitos pré-concebidos, sem uma ampla discussão. Meu Deus é especial, “do bem”, não concordo com um Deus citado na Bíblia por muitos motivos (http://vidaedogma.blogspot.com/p/o-limite-do-mau.html), mas não sou contra quem o defende.
         Meu Deus não é a minha imagem. Sou muito imperfeito. É muito melhor, indescritível. Meu Deus não fez o Universo, surgiu com ele. Meu Deus não originou os seres vivos, permitiu sua criação e sua constante evolução. Meu Deus não comanda a minha vida, me orienta. Meu Deus não precisa de acalento, de obrigações a serem cumpridas e nem de promessas e de rezas, precisa do meu pensamento. Meu Deus não é onipotente, compartilha. Quando uma criança morre e alguém fala “Deus quis assim”, o meu Deus chora.
         Minha luta é contra radicais religiosos, que levantam suas bandeiras e seus dogmas contra tudo e todos que são diferentes deles. Não existe uma única certeza, não existe o dono da razão. Um grupo que sempre acho “interessante” quanto ao ponto de vista radical e oportunista, são os criacionistas. Embora a ciência constantemente venha avançando e obtendo dados cada vez mais incontestáveis, estes radicais buscam nos últimos pilares das citações bíblicas o seu porto seguro para ataques à ciência, criando até uma facção denominada de criacionismo científico, como se isso fosse possível.
         A Teoria da Evolução foi um golpe muito forte nestes criacionistas radicais. Este é o ponto de grande discussão, porque pode levar ao questionamento da necessidade da ação Divina na criação, embora a Teoria de Darwin não tenha nenhum envolvimento com a criação dos seres vivos.
         Para iniciar nossa discussão, sabemos que muita gente ainda questiona a ancestralidade da espécie humana com os outros animais e conduzem a origem para responsabilidade da ação Divina. Esta discussão é interessante porque os cientistas do mundo todo acreditam que a evolução é a base, a sustentação da biologia moderna, mas uma grande parte da população não entende de ciência, não sabe o que é uma hipótese, uma teoria, a biologia celular, genética, geologia, paleontologia, ecologia, química, cosmologia, política e é claro, de religião. Para acreditar no criacionismo, a pessoa não tem que saber nada sobre nada e é até melhor que não saiba, porque o criacionismo depende da ignorância e não de pesquisa séria.
         Os criacionistas radicais dependem de dados alterados, citam frases de pessoas respeitadas deturpando suas palavras e usam definições distorcidas, quando usam definições, e nunca utilizam citações bibliográficas de pesquisadores respeitados mundialmente, porque, é óbvio, não as possuem. Usam como argumento frases de impacto simplistas que atraem aqueles que não querem pensar e tem muito medo de questionar as suas próprias crenças.
         Existem três tipos básicos de criacionistas: 1- os profissionais ou políticos, que mentem deliberadamente e regularmente para promover sua propaganda eleitoral; 2- os líderes religiosos, que, com o dom da palavra, são capazes de convencer seus seguidores e; 3-os passivos ou “ovelhas”, que simplesmente aceitam os discursos dos outros dois, sem questionamento. Uma pessoa religiosa inteligente não é capaz de assistir a um programa dos ditos tele-evangélicos, porque sabe quanto é ridículo. Estes criacionistas estão ganhando muito dinheiro à custa da inocência dos seus fiéis e o pior, estes falsos religiosos são protegidos e defendidos pelos fiéis. Até onde vai a doutrinação?
         Muitos criacionistas demonstram que possuem o dom da sabedoria e derramam graduações e especializações que nunca cursaram ou realizaram cursos em faculdades religiosas desconhecidas. Mesmo aqueles que conseguiram formação em universidades renomadas não conseguem se destacar no meio científico e seus nomes desaparecem com o tempo. Estes “especialistas” apresentam vídeos e textos elaborados e distribuídos nas grandes redes sociais e sites da internet específicos que passam a ser devorados por aqueles sem opinião própria. Esse é o grande perigo, a manipulação de inocentes (http://vidaedogma.blogspot.com/p/doutrina-cega.html). É importante acreditar em algo que pode ser verdade, como um Deus ou uma religião, apesar de nenhum dos dois serem possíveis de serem testados de maneira objetiva, permanecendo apenas a fé. Mas, querer enganar as pessoas com argumentações falsas é um absurdo que deve ser combatido e descartado. 
         O primeiro degrau de falsidade estabelecida pelos criacionistas radicais é apresentar a Teoria da Evolução como sinônimo de ateísmo e rejeição das religiões. Criaram um verdadeiro conceito de que era impossível aceitar a evolução dos seres vivos e acreditar em Deus. Hoje até o Vaticano possui uma linha de estudo da evolução, onde o Papa Bento 16 citou que a evolução é uma verdade enriquecedora. Os dois Papas anteriores recomendaram aos cristãos do mundo todo a não recear a evolução, porque ela não era perigo à sua fé em Cristo. Entretanto, os criacionistas estabelecem uma única linha que aceita a evolução sem Deus ou Deus criando sem evolução.
         Como já amplamente discutido no meu livro “Entre o céu e a Terra”, os grandes nomes da ciência eram religiosos, até Charles Darwin, o “monstro”, o pai da evolução. Hoje, os grandes ícones dos estudos evolucionários são cristãos. A maioria destes pesquisadores ilustres concordam com a ideia de que mesmo que haja realmente um Deus, a evolução seria verdadeira e os criacionistas estariam errados. Portanto, evolução não é sinônimo de ateísmo e criacionismo não é sinônimo de cristianismo. É bom registrar que a maioria dos criacionistas não é cristã, mas independente da religião, todos são contra a ciência e, por incrível que pareça, confiam cegamente na verdade de suas lendas, mitos e nas suas superstições. E muitas destas lendas se assemelham a deuses e monstros imaginários dos povos primitivos.
A ciência não tem pretensão de estudar a existência de Deus, embora eles continuem, aparentemente, querendo parecer inexistentes. Os livros sagrados só exigem que os deuses sejam aceitos pela fé, fato importante porque não existe método de comprovar a sua existência. A ciência só pode investigar com base em evidências demonstráveis que possam ser testados ou medidos. Já no criacionismo, as verdades são abstratas e tudo pode surgir a partir de um comando de voz ou por mágica, um “abracadabra!!!!!”.

Edson Perrone
ecperrone@gmail.com


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