20- A inspiração Divina

        

Imaginem se hoje tivéssemos que agrupar em um único livro todos os já escritos e montar uma nova Bíblia. Seria muito difícil. Acho que, por este motivo, Deus escolheu uma época onde poucas pessoas sabiam escrever e a maioria não sabia ler. Desta forma, deveria existir um orador e o povo ainda continuava passando os textos via oral.

         Agora imaginem tentar organizar um livro com pessoas relatando o que ouviram e com os poucos manuscritos existentes. Você já brincou de “telefone sem fio”? Aquela brincadeira de passar uma informação para uma pessoa e esta passa para outra... outra... outra... e, quando volta para você, já está totalmente modificada? Seria assim!
         Mas os textos não poderiam vir de qualquer um, deveriam ser de pessoas “inspiradas” por Deus. Portanto, para escolher os textos vamos ter que definir quem possui a inspiração Divina. Já imaginaram como seria difícil decidir com tantos loucos e religiosos oportunistas dizendo que são inspirados por Deus? Na época acho que também já existiam. Mas temos que decidir. Para facilitar, vamos fazer como foi feito para montar a Bíblia real, vamos escolher este, aquele e aquele outro, porque concordamos com o que está escrito. Os outros vamos dizer que são coisas do “Demo!”. Agora temos os “do bem” e os “do mal”. Resolvido!
         Foi assim. Somente por volta do século III é que se acreditou que algumas escritas tinham “inspiração” Divina. Mas a briga ideológica foi longa e confusa. Alguns livros que hoje estão no Novo Testamento foram inicialmente considerados como espúrios. Segundo Robert G. Ingersoll (The Secular Web), muitos dos primeiros cristãos repudiaram o Evangelho de João, a Epístola dos Hebreus, de Judas, de Tiago, de Pedro e a Revelação S. João. Por outro lado, consideravam o Evangelho dos Hebreus, dos Egípcios, a Pregação de Pedro, o Pastor de Hermas, a Epístola de Barnabé, a Revelação de Pedro, a Revelação de Paulo, a Epístola de Clemente e o Evangelho de Nicodemos autênticos livros inspirados.
         Alguns estudiosos atuais acreditam que a Epístola dos Hebreus não havia sido escrita por Paulo, negaram a inspiração da Segunda e Terceira de João e também a da Revelação. Lutero tinha a mesma opinião. Declarou que Tiago era uma epístola sem valor e negou a inspiração da Revelação.
         Quem fazia a seleção dos livros? Ainda considerando Robert G. Ingersoll foram os cristãos ignorantes e supersticiosos que acreditavam firmemente em milagres. Pensavam que doenças eram curadas pelos aventais e lenços dos apóstolos e pelos ossos dos mortos. Estes homens eram capazes? Não! Mas eram as verdades da época! E assim foi.
         Agora chegamos a um ponto importante. Como poderíamos provar que Deus inspirou os escritores dos livros da Bíblia? Como um homem pode estabelecer a inspiração de outro? Como um homem inspirado pode provar que está inspirado? Como ele próprio sabe que está inspirado? É impossível provar o fato de se estar inspirado. A única evidência que possuímos é a palavra de um homem e, como sabemos bem, não pode ser confiada.
         Certamente, alguns radicais religiosos devem estar pensando: “Como esse cara tem a coragem de criticar a inspiração Divina para a criação da Bíblia?”. Respondo questionando: como discutido nesta página, quem pode provar que a Bíblia foi “inspirada”? E continuo, considerando o bloqueio mental que impede muitos de recordarem o que foi feito sob a tutela religiosa que usava a Bíblia como pilar, e da mesma forma que Robert G. Ingersoll foi “iluminado” para responder, faço “eco”: utilizando-o como âncora, a Bíblia:
1.    Perseguiu, às vezes, até a morte, os melhores e mais sábios dentre os homens, dificultando o progresso da humanidade e envenenando as fontes do conhecimento. Este livro fez com que faculdades e universidades ensinassem erros e odiassem a ciência.
2.    É inimiga da liberdade, apoia a escravidão. É o sustentáculo dos reis e tiranos, o escravizador de mulheres e crianças. Ensinou o homem a matar seus semelhantes em nome de Deus.
3.    Encheu a cristandade de seitas odiosas, cruéis, ignorantes e autoritárias, semeando o ódio em famílias e nações e alimentou as chamas da guerra, empobrecendo o mundo.
4.    Fundamentou a Inquisição, inventou instrumentos de tortura, construiu calabouços nos quais homens bondosos apodreciam, forjou as correntes que se enferrujaram. Este livro colocou os justos em troncos e despojou a razão da mente de milhões e encheu os asilos de malucos.
5.    Rendeu muito aos vendedores de escravos e transformou carne humana em mercadoria. Fez com que pais e mães derramassem o sangue de seus bebês e era o tablado sobre o qual as mães escravas ficavam durante os leilões que as separariam de suas crianças.
6.    Acendeu as chamas que consumiram as “bruxas” e “feiticeiras” e transformou a escuridão na morada de fantasmas e os corpos de homens e mulheres na morada de demônios, poluindo as almas dos homens com o infame dogma da danação eterna.
7.    Este livro colocou os santos inexpressivos acima dos filósofos e filantropos, ensinando o homem a desprezar as alegrias desta vida para poder ser feliz na outra, a desperdiçar este mundo em nome do próximo.
8.    De forma inconsequente, foi contra a utilização de métodos anticonceptivos, principalmente a camisinha para evitar a contaminação do HIV.
         Com todos os problemas citados aqui e nas outras páginas deste blog, quero deixar claro que só demonstro que muitos se “cegam” e levantam bandeiras injustas e insanas. Tomam decisões arbitrárias, chegando à devoção irracional, sem qualquer limite a favor da vida, matando semelhantes por pura ideologia religiosa. É muito triste! Continuo dizendo que a Bíblia é um grande livro. Mas possui seus graves pecados e se existe um Deus por trás dela, tem dupla personalidade.

Edson Perrone

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