18- Quem escreveu a Bíblia?

        

A Bíblia, no meu ponto de vista, é um dos melhores livros já escritos. Mesmo não tendo religião, já li tantas vezes que me sinto familiarizado com os textos. Discuto frequentemente assuntos contidos no Velho e no Novo Testamento com amigos, religiosos e teólogos, aprendendo e refletindo o seu conteúdo. Assim, humildemente, elaborei um resumo sobre sua criação utilizando o texto de José Francisco Botelho (Abril), o de Carlos Augusto Ferreira (*) e o de Robert G. Ingersoll (The Secular Web). É importante dizer que não sou o dono da verdade e nem pretendo apresentar novidades, apenas um simples texto sério e sem a pretensão de agradar todos.

         Na Bíblia encontramos a história de Deus escrita pelos homens. Mas quem é o autor do livro mais influente de todos os tempos? Segundo Santo Tomás de Aquino, "É a ação de Deus, movendo e dirigindo o autor na produção do livro, preservando-o de erros, de forma que é Deus o autor e o homem mero instrumento usado para escrever". Mas, como poderemos ver neste artigo, o conteúdo da Bíblia mudou muito com o passar do tempo. A Igreja se defende dizendo que "Na redação dos livros sagrados, Deus escolheu homens, dos quais se serviu fazendo-os usar suas próprias faculdades e capacidades a fim de que, agindo Ele próprio neles e por eles, escrevessem, como verdadeiros autores, tudo e só aquilo que Ele próprio quisesse". Portanto, cabe ao leitor uma reflexão sobre o assunto.
Segundo Carlos Augusto Ferreira, tudo começou através de transmissão oral. Seguindo a cronologia bíblica, a transmissão começou por Adão, que levou os ensinamentos até os seus 930 anos de vida, passando para Lameque que passou para seu filho, Noé. Noé transmitiu a Abraão que narrou a seu neto Jacó. Jacó narra tudo para Arão e este, para Moisés que era seu filho, terminando a transmissão oral da palavra de Deus. Deus disse a Moisés: “Escreva isto para memorial num livro” (Ex 17: 14). Naquela época, estes andarilhos não faziam comércio com outras nações, não possuíam linguagem escrita, não podiam ler nem escrever. Não possuíam meios para fazer com que outras nações tomassem conhecimento daquela revelação, que assim permaneceu enterrada no linguajar de umas poucas tribos ignorantes, empobrecidas e desconhecidas por mais de dois mil anos.
Os textos escritos começaram por volta do século 10 a.C., quando uma pessoa normal, em algum lugar do Oriente Médio, decidiu escrever um livro e, utilizando os recursos limitados da época, começou a contar uma história, diferente de tudo o que já havia sido escrito. Foi um “best seller” que outras pessoas continuariam reescrevendo, rasurando e compilando.
A revelação divina, conforme a própria Igreja, veio pelas mãos humanas, portanto, escrita por mortais, com textos montados pelo tempo, pela história e pela fé. O termo “Bíblia” que usualmente é utilizado no singular vem do plural grego “ta biblia ta hagia”, que significa “os livros sagrados”. Seguindo a Igreja Católica, os 5 primeiros livros do Antigo Testamento (que no judaísmo se chamam Torá e no catolicismo Pentateuco) teriam sido escritos pelo profeta Moisés por volta de 1200 a.C.(1). Os Salmos seriam obra do rei Davi(2), o autor de Juízes seria o profeta Samuel(3), e assim por diante. Entretanto, não foi bem assim.
(1)  Segundo Carlos Augusto Ferreira, até o século XVIII d.C., acreditava-se que Moisés tinha escrito o Pentateuco, mas, atualmente, acredita-se que não foi bem assim. A Igreja Católica aceita que Moisés foi quem fez a primeira codificação das leis de Israel e, logo após, o bloco de tradições foi enriquecido com novas leis devido às mudanças históricas e sociais de Israel, até o tempo de Jesus. A partir de Salomão (972-932), passou a existir a corte dos reis, tanto de Judá quanto de Samaria, um grupo de escritores que zelavam pelas tradições de Israel, os escribas e sacerdotes que originaram quatro coleções de narrativas históricas que deram origem ao Pentateuco (Torá).      Segundo Robert G. Ingersoll, nele são mencionadas cidades que nem existiam na época em que Moisés viveu e nem é mencionado dinheiro que só foi cunhado séculos após sua morte. Assim, muitas das leis não eram compatíveis com viajantes do deserto, como exemplo: leis sobre agricultura, sobre o sacrifício de bois, ovelhas e pombas, sobre tecelagem de roupas, sobre ornamentos de ouro e prata, sobre o cultivo da terra, sobre a colheita, sobre o debulhamento de grãos, sobre casas e templos, sobre cidades de refúgio e sobre muitos outros assuntos que não possuíam qualquer relação possível com uns poucos viajantes famintos.
(2)  Segundo Robert G. Ingersoll, os Salmos não foram escritos por Davi. Neles fala-se da escravidão, a qual somente ocorreu por volta de cinco séculos após Davi ter “dormido” com seus pais.
(3)  Ainda considerando Robert G. Ingersoll, ninguém conhece ou finge conhecer o autor de Juízes; todos sabemos que foi escrito séculos após os juízes terem deixado de existir. Ninguém conhece o autor de Rute, nem o Primeiro ou o Segundo de Samuel; sabemos apenas que Samuel não escreveu os livros que têm seu nome. No 25° capítulo de I Samuel é narrada a criação de Samuel pela feiticeira de Endora.
As histórias contidas na Bíblia, como nos demais livros sagrados, derivam de mitos e lendas que foram adaptadas à realidade de seus seguidores. No caso da Bíblia, as histórias foram originadas na chamada Terra de Canaã, que hoje corresponde a Líbano, Palestina, Israel e pedaços da Jordânia, do Egito e da Síria. Também encontramos participação dos sumérios, antigos habitantes do atual Iraque, que no 3° milênio a.C. escreveram a Epopéia de Gilgamesh. Este semideus era muito semelhante a Cristo, que possuía características de ser humano e divino ao mesmo tempo. Até o dilúvio bíblico foi copiado desta epopéia, onde o mundo foi devastado por uma enchente e algumas pessoas se salvaram em um barco. Portanto, a Bíblia recebeu influência de várias culturas.
Com a unificação das tribos hebraicas feita por Davi, por volta do ano 1.000 a.C, os escritores hebreus começaram a redigir a primeira versão das Escrituras, contemplando o Gênesis e o Êxodo. Logo no início surgiram problemas com a palavra “Deus”, que foi tratado por dois nomes diferentes. Em alguns trechos ele é chamado pelo nome próprio, Yahweh (= Javé ou Jeová) e, em outros momentos, “Deus” é chamado de Elohim. Como se explica isso? Para os religiosos radicais Moisés escreveu tudo sozinho e usou os dois nomes. É difícil de aceitar a explicação dos radicais porque existe a narrativa da morte do próprio Moisés. Isso indica que ele não poderia narrar a sua morte, não sendo o único autor. Os historiadores e a maioria dos religiosos aceitam outra hipótese: esses textos tiveram, pelo menos, dois editores. As escritas destes editores foram discordantes, o Javista diz que Deus fez o mundo em apenas um dia e o Eloísta fez o mundo em 6 dias e descansou no 7° dia. Com o passar dos tempos, como já esperado, a narrativa mais comportada do Eloísta predominou e hoje conhecemos: “E, no início, Deus criou o céu e a terra...”
Com a derrota de Jerusalém para os babilônicos em 589 a.C., grande parte da população foi levada para o sul do Iraque e, depois de décadas, conseguiu retornar a Canaã, com um único Deus, Javé. Portanto, o monoteísmo pode ter surgido pelo contato com os persas, pois a religião deles, o masdeísmo, pregava a existência de um Deus bondoso, Ahura Mazda, em constante combate contra um deus maligno, Arimã. Melhores detalhes podem ser encontrados no meu livro “Entre o céu e a Terra”.
Por volta de 389 a.C. um religioso chamado Esdras liderou um grupo de sacerdotes para mudar o judaísmo com a versão final do Pentateuco. Editaram os livros anteriores e escreveram a maior parte dos livros Deuteronômio, Números, Levítico e também os 10 Mandamentos. É importante registrar que os Dez Mandamentos (Decálogo) é o nome dado ao conjunto de leis que, segundo a Bíblia, teriam sido originalmente escritos por Deus em tábuas de pedra e entregues ao profeta Moisés no Monte Sinai. Conforme a lenda, as tábuas de pedra originais foram quebradas, de modo que, segundo Êxodo 34: 1, Deus teve de escrever outras, agora de forma mais prática de carregar.
A primeira tradução do Antigo Testamento ocorreu por volta do ano 200 a.C., sob a ordem do rei Ptolomeu 2° em Alexandria, no Egito, que era um grande centro cultural da época. Essa tradução (de hebraico para grego) foi realizada por 72 sábios judeus. Por isso, o texto é conhecido como Septuaginta. Dois séculos mais tarde, a Bíblia, que também foi traduzida para aramaico, era o livro mais lido na Judéia, na Samária e na Galiléia (províncias que formam os atuais territórios de Israel e da Palestina). Foi aí que surgiu Jesus de Nazaré.
Hoje, segundo Carlos Alberto Ferreira, são reconhecidos pelos especialistas 5236 manuscritos do texto original grego do Novo Testamento, distribuídos em 81 papiros, 266 códigos maiúsculos, 2754 códigos minúsculos e 2135 lecionários.
Surge um grupo subversivo, o cristianismo. A subversão estava ligada à negação de cultuar os deuses oficiais do Império Romano. Foi nesse clima de medo que os cristãos passaram a colocar no papel as histórias de Jesus, que circulavam em aramaico e também em coiné, que era um dialeto grego falado pelos mais pobres. Na tentativa de discutir suas origens, os cristãos criaram o Evangelho, palavra originária do grego evangélion (boa-nova), um tipo de narrativa religiosa contando os milagres, os ensinamentos e a vida do Messias.
Alguns Evangelhos conseguiram sobreviver ao tempo porque foram copiados, sempre à mão, por membros da Igreja. No século 4 surgiu um precursor do “livro”, o formato de códice, que eram folhas de couro encadernadas. Mas os textos originais já haviam sido alterados com o passar de tantas cópias, mudando o sentido dos textos. Em certos casos, tais erros foram também propositais, de acordo com a teologia do escritor.
Segundo José Francisco Botelho, um exemplo da modificação feita na Bíblia pode ser observado na famosa cena em que Jesus salva uma adúltera prestes a ser apedrejada. De acordo com especialistas, esse trecho foi inserido no Evangelho de João por algum escriba, por volta do século 3. Isso porque, na época, o cristianismo estava cortando seu cordão umbilical com o judaísmo. E apedrejar adúlteras é uma das leis que os sacerdotes-escritores judeus haviam colocado no Pentateuco. A introdução da cena em que Jesus salva a adúltera passa a ideia de que os ensinamentos de Cristo haviam superado a Torá e, portanto, os cristãos já não precisavam respeitar ao pé da letra todos os ensinamentos judeus.
O medo das mudanças nos textos da Bíblia era tão grande que no Apocalipse, versículo 18 e capítulo 22, pode-se ler “Se alguém fizer acréscimos às páginas deste livro, Deus o castigará com as pragas...”, refletindo o clima dos primeiros séculos do cristianismo, que era caracterizado como uma verdadeira baderna teológica, com montes de seitas defendendo ideias diferentes. A confusão, já esperada no início de uma religião que se tornou uma das mais influentes na humanidade, pode ser observada na concepção da pessoa de Jesus. Os Docetas acreditavam que Jesus não teve um corpo físico, sendo um espírito, e a sua crucificação e morte foram apenas ilusão de ótica. Já os Ebionistas acreditavam que Jesus não nasceu como Filho de Deus, mas foi adotado, já adulto. A primeira tentativa de organizar esse bagunça nas Escrituras ocorreu por volta de 142 por um rico comerciante de navios chamado Marcião.
Marcião era turco e, quando morava em Roma, montou uma seleção de textos sagrados, diferentes da Bíblia utilizada hoje devido, principalmente, à sua seita, o gnosticismo. Aqui podemos entender o lado “do bem” e o “do mal” na Bíblia, porque os gnósticos acreditavam na existência de duas divindades inimigas de morte: o Deus hebraico que era monstruoso, sanguinário e controlava apenas o mundo material, e o Deus bondoso, pai de Jesus, que controlava o Universo espiritual. Neste livro, só existia o Evangelho de João, 11 cartas de Paulo e nenhuma página do Velho Testamento, portanto, se este livro fosse adotado, hoje as histórias de Adão e Eva no paraíso, a arca de Noé e a travessia do mar Vermelho não seriam aceitas pelos religiosos radicais como verdades plenas. Entretanto, por volta de 170, o gnosticismo foi declarado proibido pelas autoridades eclesiásticas, e o primeiro editor da Bíblia cristã acabou excomungado.
Somente no ano 313, com o imperador romano Constantino, aliado da Igreja, a religião cristã se fortaleceu junto com o império. Com uma fé única e sólida e “oportunista”. Constantino convenceu os mais influentes bispos cristãos a se reunirem no Concílio de Nicéia, em 325, onde surgiu o cânone do cristianismo, a lista oficial de livros que, segundo a Igreja, realmente haviam sido inspirados por Deus. A escolha dos livros sagrados foi, também, política, porque existiam facções religiosas distintas e aquela do lado do império, os cristãos apostólicos, definiram o que iria entrar ou ser eliminado das Escrituras.
Como podemos observar, a decisão do que estaria presente na Bíblia foi muito parcial, contendo os Evangelhos de Marcos, Mateus, Lucas e João para representar a biografia oficial de Cristo, eliminando as Escrituras dos Docetas, dos Ebionistas e de outras seitas, e seus autores declarados, como era de se esperar, hereges. Os textos excluídos do cânone ganharam o nome de “apócrifos” (palavra que vem do grego apocrypha, “o que foi ocultado”). Estes livros perderam o interesse e não foram feitas cópias e a maioria se perdeu no tempo, até que no século 19, pedaços desses textos foram encontrados nas areias do Oriente Médio.
Em 1947 foram encontrados em Qumram, no deserto de Judá, Israel, os manuscritos do Mar Morto, que datam do século II a.C. até o século I d.C. Os 40 mil manuscritos continham textos da Bíblia hebraica, exceto o livro de Ester. Estes achados permitiram retroceder mil anos de história da Bíblia e certificaram a base dos textos existentes hoje.
Bom, voltando ao texto, agora a base do cristianismo estava em Roma e, portanto, a Bíblia precisava de uma tradução para o latim. A missão, que durou 17 anos, coube ao teólogo Eusebius Hyeronimus, que mais tarde viria a ser canonizado com o nome de São Jerônimo. Sob ordens do papa Damaso, ele viajou a Jerusalém em 406 para aprender hebraico e traduzir o Antigo e o Novo Testamento, originando a Vulgata, a Bíblia latina, que até hoje é a base do texto oficial da Igreja Católica, reinando absoluta ao longo da Idade Média.
É importante registrar que, segundo Carlos Alberto Ferreira, as traduções não foram inspiradas por Deus, porém servem de testemunho da existência e autenticidade dos originais: “Se não pudermos ter as palavras exatas pelas traduções, ao menos teremos o sentido sem conflito qualquer de doutrinas”.  
Agora traduzida para o latim, a Bíblia precisava ser divulgada. Este trabalho foi entregue aos monges copistas que passavam a vida fazendo cópias à mão, catalogando manuscritos antigos e, como era de se esperar, incluindo e modificando textos da Bíblia para agradar a reis e imperadores. Entretanto, o trabalho destes monges foi muito importante para a sobrevivência de muitos livros após a queda do Império Romano, como exemplo, a Ilíada e a Odisséia.
         Com a invenção da imprensa feita pelo alemão Johann Gutenberg, em 1455, os livros puderam ser produzidos em massa. Agora os problemas estavam relacionados às traduções. Martinho Lutero, em 1522, traduziu a Bíblia do hebraico e do grego para o alemão, incluindo mudanças que não agradaram a Igreja. Outro exemplo foi a tradução feita pelo britânico William Tyndale, que traduziu a Bíblia para o inglês e, novamente, com alterações.
         Para o português, a tradução foi feita em 1753, pelo protestante João Ferreira de Almeida. Hoje, a tradução considerada oficial é a feita pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e lançada em 2001. Ela é considerada mais simples e coloquial que as traduções anteriores. De lá para cá, a Bíblia ganhou o mundo e as línguas. Já foi convertida para mais de 300 idiomas e continua um dos livros mais influentes do mundo: todos os anos são publicados 11 milhões de cópias do texto integral, e 14 milhões só do Novo Testamento.
O mais importante em relação à Bíblia é sua interpretação, às vezes, com propósitos equivocados. Em pleno século 21, pastores fundamentalistas tentam proibir o ensino da Teoria da Evolução nas escolas dos EUA, sendo que a própria Igreja aceita as teorias de Darwin desde a década de 1950. Segundo José Francisco Botelho, líderes como o pastor Jerry Falwell defendem o retorno da escravidão e o apedrejamento de adúlteros, e no Oriente Médio, rabinos extremistas usam trechos da Torá para justificar a ocupação de terras árabes. Por quê? Porque está na Bíblia, dizem os radicais. No meu livro “Entre o céu e a Terra” foi discutido que a Bíblia não deve ser lida como um “manual científico” ou de regras literais, e sim como o relato da jornada humana em busca de Deus.
         Encontrando “eco” nas palavras de Robert G. Ingersoll, podemos questionar se realmente este livro teve uma inspiração Divina. “Caso tivesse, deveria ser um livro que nenhum outro homem – ou grupo de homens – pudesse produzir. Deveria conter a perfeição da filosofia”. Deveria estar totalmente de acordo com cada fato da natureza. Não deveria conter erros em astronomia, geologia ou em quaisquer outros assuntos ou ciências. Sua moral deveria ser a mais sublime e pura. Suas leis e suas regras para controle de conduta deveriam ser justas, sábias, perfeitas e perfeitamente adequadas aos fins visados. Não deveria conter quaisquer coisas que tornassem o homem cruel, vingativo ou infame. Deveria estar repleto de inteligência, de justiça, de pureza, de honestidade, de clemência e de espírito de liberdade. Deveria opor-se à contenda, à guerra, à escravidão, à cobiça, à ignorância, à credulidade e à superstição. Deveria desenvolver o intelecto e civilizar o coração. Deveria satisfazer o coração e a mente dos melhores e dos mais sábios. Deveria ser verdadeiro.
         Na verdade, a Bíblia é apenas um livro muito antigo que contém as crenças, os costumes e os preconceitos naturais de seus autores e dos povos entre os quais viveram. Conforme os antigos hebreus acreditavam e está citado na Bíblia, a Terra era o centro do Universo, plana e com quatro cantos; o Sol, a Lua e as estrelas eram manchas no céu; o céu, o firmamento, era sólido e era o piso da morada de Jeová; imaginavam que o sol viajava ao redor da Terra e que, parando-se o sol, o dia poderia ser prolongado; acreditavam que Adão e Eva foram os primeiros seres humanos e que haviam sido criados poucos anos antes deles, os hebreus, e que eles próprios eram seus descendentes diretos.
         Como podemos observar, se há algo certo, é que os autores da Bíblia estavam enganados sobre o que a ciência nos diz hoje. Portanto, devemos admitir que, se o autor da Bíblia foi um ser Divino e criador de tudo, então deveria saber todas as ciências, todos os fatos, e estar acima de quaisquer erros. Se existem erros, enganos, falsas teorias, mitos ignorantes e asneiras na Bíblia, então ela deve ter sido escrita por seres comuns; ou seja, por homens com culturas simples e arcaicas típicas de cada época. Nada poderia ser mais óbvio que isso.
         Entretanto, este livro nada perde de importância para a religiosidade dos seus seguidores, porque, mesmo com alguns momentos “críticos”, continua sendo uma obra fascinante e que continua a orientar o caminho da fé de seus devotos. Como observaram, evitei escrever sobre conflitos e erros no conteúdo da Bíblia, ficando estes textos para uma próxima oportunidade. Espero que eu tenha ajudado a entender um pouco a história deste livro tão importante, embora não tenha incluído, como era de se esperar, fatos sobrenaturais na sua criação. Cada um interprete de sua maneira e reflita, sem o peso e imposições sobre a sua cabeça.
Edson Perrone

(*) Ferreira, C. A. Módulo I, Introdução ao estudo das escrituras sagradas. Escola de aprofundamento da fé. Mensageiros da Boa Nova.