12- A força da imagem

Assistindo um vídeo (http://www.youtube.com/watch?v=VqgcrJs5cPE) com uma propaganda da Macedônia, que me foi enviado por uma sobrinha, encontrei uma discussão interessante, já conhecida, mas apresentada de forma diferente. O vídeo apresenta, de forma simples, uma discussão sobre pontos de vista, embora seja montado com objetivos claros para favorecer determinados grupos ideológicos.
O vídeo começa com um professor dizendo que vai provar que, se Deus existe, ele é mau. O professor pergunta: Deus criou tudo o que existe? E responde: Se Deus criou tudo o que existe, então ele criou o mal, o que significa que Deus é mau! Neste momento, um aluno pede licença ao professor e pergunta: O frio existe? O professor assustado indaga: que tipo de pergunta é essa? Claro que ele existe! Você nunca ficou com frio? O aluno responde: Na verdade, senhor, o frio não existe. De acordo com as leis da física, o que nós consideramos frio é na realidade a ausência de calor. O aluno faz outra pergunta ao professor: A escuridão existe? Claro que existe, responde o professor. O aluno fala: O senhor está errado. A escuridão não existe. É, na realidade, a ausência da luz. A luz nós podemos estudar, mas a escuridão não. O mal não existe, porque é a mesma coisa que o frio e a escuridão. Deus não criou o mal. O mal é o resultado do que acontece quando o homem não tem o amor de Deus.
O aluno apresentado neste vídeo era Albert Einstein, embora não cite a fonte da informação. O principal objetivo da propaganda é dizer que religião é ciência e propor o retorno do estudo da religião nas escolas. É uma forma clara e tradicional de criar um sentimentalismo para o convencimento público, como é comum em determinados grupos religiosos. Esta história foi originalmente criada, embora eu não tenha certeza de sua real verdade, em uma aula na Universidade na Alemanha e não com crianças. A propaganda, muito bem elaborada, usou este artifício para facilitar o seu convencimento.
Eu fico feliz por parte desta propaganda demonstrar que Einstein não era ateu, como muita gente diz, porque ele nunca se posicionou neste sentido. De forma contrária, mostrou-se familiar com os conceitos religiosos, onde citou a conhecida frase: “A ciência sem religião é manca; a religião sem ciência é cega”. Outra frase interessante obtida no livro de Max Jammer, “Einstein e a Religião”: “Todas as especulações mais refinadas no campo da ciência provêm de um profundo sentimento religioso; sem esse sentimento, elas seriam infrutíferas”. No meu livro “Entre o céu e a Terra” cito que Einstein nunca acreditou na relação da ciência com a religião como impossível, apenas não compartilhava com a imposição de dogmas. Einstein percebeu através dos livros científicos que muitas histórias contidas na Bíblia não podiam ser verdades e que os jovens estavam sendo enganados durante a educação religiosa, tanto que ele desaprovou a educação religiosa de seus filhos quando desconfiou que o objetivo era ensinar cerimônias religiosas ou ritos, em vez de desenvolver valores éticos.
Na mesma época em que Einstein abordava a sua religiosidade, foi maciçamente perseguido por religiosos. Chegaram a pedir aos seus seguidores para não lerem nada sobre a Teoria da Relatividade, uma vez que ela era uma especulação confusa que poderia gerar dúvida sobre Deus e sua criação. Por não acreditar em um Deus pessoal, Einstein foi duramente criticado. Nesta época, pediram a Einstein para definir Deus e, respondendo, disse que não era ateu e nem panteísta (uma doutrina que identifica o Universo com Deus) e citou um exemplo fantástico que pode ser assim resumido: Vamos imaginar uma criança entrando em uma grande biblioteca, cheia de livros escritos em várias línguas. A criança sabe que alguém escreveu aqueles livros, mas não sabe como e nem compreende as línguas em que foram escritos. Observa que os livros estão dispostos em uma ordem misteriosa, mas não sabe qual é esta ordem. Essa, ao que parece, é a atitude até mesmo do mais inteligente dos seres humanos diante de Deus. Vemos o Universo, maravilhosamente disposto e obedecendo a certas leis, das quais só temos uma pequena compreensão.
Outro problema com a informação do vídeo analisado é a frase do aluno: “O mal não existe, porque é a mesma coisa que o frio e a escuridão. “Deus não criou o mal”. O mal é o resultado do que acontece quando o homem não tem o amor de Deus”. Com esta fala colocamos o Deus como sinônimo do bem, o que entra em conflito com a Bíblia, porque em muitas passagens, principalmente no Velho Testamento, o Deus foi mau. (http://vidaedogma.blogspot.com/p/o-limite-do-mau.html).
Muitos religiosos e teólogos justificam tais maldades como necessárias para corrigir e adequar a civilização dentro do eixo do bem. Segundo estas pessoas, a primeira dificuldade em se lidar com as passagens onde Deus possui um comportamento “do mal” é justamente a pequena compreensão que o ser humano tem do caráter de Deus. As pessoas formam seus valores com comparações e com relação ao Divino, não há com o quê ou com quem compará-lo. Diante do Senhor, não há paralelos que permitam identificar aquilo que lhe é natural. Por isso, não podemos definir para o Criador padrões ou parâmetros do que seja justo, correto, bom e adequado. Os padrões da dimensão terrena e finita não podem ser parâmetros ou projeções para aquilo que está infinitamente acima da percepção e do conhecimento humanos.
Considerando o parágrafo acima, eu tenho que entender que todas as atrocidades provocadas pela Igreja foram para o bem e permitidas por Deus. Assim, podemos justificar qualquer ação maléfica contra um determinado princípio, desde que este esteja contra o que acredito ou usar como exemplo o que Deus já fez, porque mesmo sendo o seu comportamento “do mal”, eu continuo “do bem” como Deus. Podemos justificar uma matança ou torturas de pessoas porque eles não são cristãos (Revelações 21: 8). Portanto, analisando as escrituras, podemos considerar, em alguns momentos, que Deus, em determinadas passagens bíblicas, não nos deu  bons exemplos! Salvem as nossas crianças desses exemplos!
O meu objetivo não é caracterizar um Deus malvado. Eu vejo um Deus “do bem”, só não entendo a criação de justificativas para a maldade Divina registrada na Bíblia. Vamos considerar o dilúvio de Noé. Mesmo pregando por cerca de 120 anos, Noé não conseguiu convencer os antediluvianos das impurezas de seus comportamentos. Assim, Deus condenou toda a geração de Noé, com a finalidade de um novo começo da raça humana. Mas Deus todo poderoso não teria forma melhor de realizar esta purificação? Teria que matar, servindo como exemplo apenas para a família de Noé? Que exemplo é esse? Será que as crianças antediluvianas eram impuras? Já sei! Deus sabe o que faz! Não podemos questionar os seus métodos, porque mesmo com toda a sua “maldade” ele está certo! Meu Deus não é assim (http://vidaedogma2.blogspot.com/p/abracadabra.html).
Outro exemplo de justificativa para a “maldade Divina” foi a destruição das cidades de Sodoma e Gomorra, evidenciando a consequência do pecado. Na história Bíblica, é uma das páginas mais tristes sobre o ponto a que pode chegar a depravação do ser humano. Conforme os que tentam justificar a ação Divina, não havia outro jeito! A impureza, cujo clamor subira aos Céus, tinha que ser exemplarmente condenada, como um câncer que precisa ser extirpado, sob o risco de comprometer aquilo que ainda está são. Novamente eu não entendo o poder Divino, sempre com ações punitivas, o que não passa pela minha cabeça “do bem”. O exemplo destas passagens bíblicas é matar, punir, destruir aqueles que são impuros. Na cabeça dos seguidores bíblicos com “tapa-olhos” não existe qualquer problema com estas maldades, mas se analisarmos friamente, temos que “purificar” nossos conceitos.
Voltando ao texto central, para finalizar, eu acho que a frase do aluno destacada acima, O mal não existe, porque é a mesma coisa que o frio e a escuridão. Deus não criou o mal. O mal é o resultado do que acontece quando o homem não tem o amor de Deus”, é muito boa e deve ser utilizada para a manutenção da fé das pessoas religiosas. É muito bonito! Mas é uma péssima ferramenta de convencimento para tentar discutir o assunto central da propaganda, que religião é ciência e deve ser utilizada nas escolas, principalmente, porque foi maquiada. As pessoas inteligentes logo descobrem os reais interesses deste artifício de divulgação, o que não é possível para aqueles que se fecham aceitando os dogmas religiosos.

Edson Perrone

ecperrone@gmail.com