O grande problema dos radicais religiosos está, especificamente,
com o Gênesis. Deve ser muito desconfortante ter que brigar e defender textos
com tantas contradições. Não estou considerando a interpretação e sim o que
está escrito. Como podem conviver com duas versões da criação? Existe uma versão
no primeiro capítulo e outra diferente no segundo. Na primeira versão, os
pássaros e bestas foram criados antes do homem e na segunda, o homem é criado
antes dos pássaros e bestas. Quem veio primeiro? “O ovo ou a galinha?”.
Desculpem-me
os criacionistas fixistas, mas é muito fácil responder esta pergunta sob a
visão evolucionista, porque o animal galinha é descendente dos répteis que já
botavam ovos, portanto, o ovo veio primeiro e o animal galinha surgiu muito
tempo depois. Mas, de uma forma equivocada, poderíamos acreditar que foi o
galo, feito do barro, e de sua costela, surgiu a galinha, que colocou o ovo.
Existem desacordos
no Gênesis. Na primeira versão, as aves são feitas a partir da água (Gênesis 1:
21-22) e, na segunda, as aves são feitas a partir da terra (Gênesis 2: 19),
portanto, a criação foi na água ou na terra? Em Gênesis 1: 26-27, Adão e Eva
são criados juntos e, no segundo capítulo (Gênesis 2: 7, 19, 20 e 22), Adão foi
criado primeiro, deu nome aos seres e então Eva foi criada a partir de uma das
costelas de Adão. Qual a verdade? Sei que muitos vão responder estes
questionamentos sob o ponto de vista religioso, porque tiveram muito tempo para
discutir e arrumar desculpas, entretanto, mesmo parecendo besteira, estes
“equívocos” podem provocar erros na interpretação. Considerando que a Bíblia
foi copiada e modificada tantas vezes, porque não evitaram as duas escritas? Estes
erros conceituais podem gerar questionamentos e dúvidas, assim pergunto: “Um gafanhoto é verde porque vive na grama ou vive na
grama porque é verde?”.
Dependendo da resposta podemos estar
cometendo um erro de conceito. Novamente respondo sob a ótica darwinista: o
gafanhoto vive na grama porque é verde, possuindo esta característica vantajosa
que lhe permite a sua sobrevivência na grama, dificultando a ação dos
predadores. Mas por um erro de conceito, segundo Lamarck, poderia dizer que é
verde porque vive na grama, aceitando que o gafanhoto ficou verde por influência
da grama.
Os
religiosos acreditam que o Gênesis foi escrito por homens orientados por um
poder Divino. Entretanto, estas
histórias são muito mais antigas que
o Pentateuco, os cinco primeiros livros da Bíblia (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio). O Gênesis é pura cópia das histórias de outros povos. Só
não percebe quem não quer estudar as nossas origens e se fecha dentro das
“muralhas” de suas crendices. Vou tentar esclarecer utilizando poucos exemplos.
Observando a
história persa, que é muito semelhante a dos etruscos, babilônios, fenícios,
caldeus e egípcios, Deus criou o mundo em seis dias, criou um homem chamado
Adama e uma mulher chamada Eva e então descansou. Nota alguma semelhança? Os
persas, gregos, egípcios, chineses e hindus têm seu Jardim do Éden e sua Árvore
da Vida, bem como os persas, os babilônios, os núbios, o povo do sul da Índia,
que possuem histórias do homem e da serpente astuciosa. Os chineses dizem que o
pecado veio ao mundo através da desobediência da mulher e os taitianos
acreditam que o homem foi criado da terra e a primeira mulher de um de seus
ossos. Lembra de alguma passagem assim? Sugiro a leitura da página (Adão e
Eva).
Sei que é duro
reconhecer que o Gênesis é composto por cópias feitas durante muito tempo por
homens que tinham a dedicação e a “inspiração” de contar os mitos e lendas de
seu povo e outras que escutavam de povos vizinhos, criando um fantástico acervo
que serviu de base para outros mitos e outras lendas até chegar ao tempo atual,
na Bíblia que conhecemos. Sugiro a leitura da página (Quem escreveu a Bíblia?).
Utilizando o texto
de Robert G. Ingersoll (The Secular Web), podemos agora discutir a história do dilúvio. Esta história é muito mais antiga que o
livro do Gênesis e foi copiada da versão caldéia. Nela encontramos o mesmo
conteúdo, com chuva, a arca, os animais, a pomba que foi enviada três vezes e a
montanha na qual a arca repousou. Além disso, os hindus, chineses, persas,
gregos, mexicanos e escandinavos têm essencialmente a mesma história. Mesmo
sendo uma história absurda, mas interessante como lenda, os criacionistas a
defendem com “unhas e dentes”. Para
ter base na discussão, sugiro uma leitura na página (O
dilúvio) e veja se existe a mínima possibilidade
desta lenda acontecer.
Os criacionistas se
defendem dizendo que estas citações só comprovam a veracidade de Adão e do
dilúvio. Na realidade os textos bíblicos, aqui apenas considerando o Gênesis,
são apenas comprovações das adequações e cópias de outros mitos e lendas, onde
os redatores não tinham qualquer pretensão dos seus textos serem utilizados
como a Igreja impôs.
Esqueça seus dogmas.
Esqueça o seu medo. Volto a pedir uma reflexão: o Pentateuco, principalmente o Gênesis, para evitar a carnificina dos outros quatro livros, além de uma boa leitura histórica,
pode ser utilizado como única verdade? Será que os autores de Gênesis sabiam
tanto sobre as origens e da natureza quanto Aristóteles, Copérnico, Kepler,
Galileu, Newton, Humboldt, Darwin, Haeckel, Einstein, Hubble, Hawking, entre tantos? A resposta é simples, não! E ainda sabemos tão pouco! Se
Deus, um dia, teve e pretensão de passar os seus ensinamentos para o homem sob
a forma escrita, escolheu o momento errado e deve estar muito insatisfeito com
o que fizeram com suas ideias originais.
Edson Perrone
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